sábado, 22 de dezembro de 2007

dramático sem ser trágico

Vincent Van Gogh, girassóis, 1888, óleo sobre tela, 92x173cm, national galery, londres.
"vale a pena entrar um pouco mais detalhadamente na questão da cor - porque, também em termos de expressividade, a cor formula os conteúdos através de relacionamentos espaciais.। nas artes plásticas, a cor constitui um dos elementos básicos da linguagem (ao lado de outros elementos visuais: linhas, superfícies, volumes, luz, isto é, contrastes de claro/escuro). nunca se trata porém, de uma cor isolada e sim de relações colorísticas. na imagem, a elaboração formal das cores se dá através de determinadas relações (cuja escolha pelo artista é sempre intuitiva), que permite configurar determinadas modalidades de espaço (linear, plano, profundo, vibratório, ou outras), estabelecendo combinações variadas de dimensões espaciais - de espaço/tempo. Esta especialidade, por sua vez, irá corresponder a determinadas visões do mundo e estados de ser. Assim as cores se tornam expressivas através de seus relacionamentos espaciais, através de movimentos formais, distanciamentos e proximidades que são articulados dentro da relação colorística. Por exemplo vejamos a pintura de Van Gogh, de um vaso com girassóis. porque o conteúdo expressivo deste quadro seria dramático? afinal, o tema, em si, nada tem de dramático: são simples flores. além do ritmo agitado das pinceladas, temos que ver as cores. e como van gogh usou as cores? entre as várias relações, ele escolheu a de cores complementares (as outras relações sendo: tonalidades, cores primárias-secundárias, cores quentes-frias); de fato, é a relação que permite estabelecer os contrastes máximos, de atração e tensão, enaltecendo sempre o caráter sensual das cores. Nesta relação, van gogh cria grandes tensões espaciais, tensões quase que insuportáveis, ao afastar os grupos de cores encaminhá-los para distanciamentos extraordinários antes de finalmente reunir as cores de novo (reunir, quer dizer, neste caso, complementar as cores na totalidade da luz, fechando a relação). daí o caráter dramático da imagem, a partir de um tema tão inocente. mas evidentemente, havia toda uma visão interior em van gogh, de terríveis conflitos, e também (o que não deve ser esquecido), de sublimação, que ele queria, precisava expressar। o tema das flores era apenas um pretexto, ou digamos, um trampolim, para configurar o conteúdo expressivo."
página 198, de "acasos e criação artística" de fayga ostrower (*19/09/1920+13/09/2000)-, editora campus
http://www.campus.com.br/ , já na sexta edição. a primeira edição é de 1990.